terça-feira, 2 de outubro de 2012

Perdoe-me eu

Na vida aprendemos a andar para frente, porém aprendi que por vezes é sábio andar para trás, rever antigos conceitos. Liguei-me a essa ideia hoje, pois estou em meio a perdões. Perdões pedidos a mim mesma sem a fatídica palavra em si, mas com alguéns se chegando de mansinho. Perdoar é sábio e muito difícil. Perdoar aos outros é admitir que há o erro em si próprio, pois se eu não admito o erro alheio é porque acho que não erro, logo, sou perfeita. Então, perdoar a si próprio é primordial. É saber-se humano, sentir-se humano e ter a consciência que por mais que a estrada seja lisa o passo não o é.
Amor não fica só de bem. Ele troca de mal quando lhe dá na telha, precisa de um tempo, de um canto e respira sem o aperto do abraço muitas vezes cruel e sufocante. O corre-corre do dia-a-dia e de repente para, um sorriso, pronto! É o refazimento de toda a força por mais que amuada. Coração é terra onde não se pisa, dizem. No meu eu sapateio, canto, danço, arranco a tinta na unha, depois volto a pintar. Há um quadro ou outro, um retrato que não tiro do lugar, mas sempre há um espaço para mais, uma necessidade de tirar o que não flui, pois ali se expande e se retrai. Uma hora valsa, noutras muito samba, dia de brisa, bossa nova, tango, blues. 
Perdão é para si e para o outro, é amor machucado e curado, velho e renovado. É algo de todos e só meu. Então, é secreto e seguro, deve ser puro, deve ser chão.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Estrela!

Você chegou com tanta força que foi descoberto logo no princípio. Sua vinda era tão esperada que não dava para esconder... Você tentou vir de mansinho como todos fazem, mas sua mamãe parece que sentiu seu cheiro. 
Em sua primeira morada, fez bagunça, claro! Trocou tudo de lugar, achou pequeno, expandiu, queria e precisava de mais espaço. Sua mãe quis ficar brava, mas todo o amor de mãe e saber de sua necessidade em crescer não permitiam.
Você quis nos dar um susto e saiu da primeira morada antes da hora. Não ouviu ninguém e veio conforme sua vontade. Ali estava dizendo que seu tempo era outro, que já estava pronto!
Pronto! Você veio pequenininho, parecendo frágil, mas sabemos que era só delicadeza, com uma força incrível! A força vem do amor que trouxe junto e parece que sempre estava aqui. Parece que olhava a mamãe e o papai lá do céu ajeitando tudo para chegar no momento certo. Você veio completar a pintura e acima de tudo, dar sentido à vida. Você é fruto e ao mesmo tempo flor, pois dá a beleza à árvore. Você traz sorriso, carinho e amor. Para suportar tanto sentimento, papai e mamãe tem de ter mais coração porque um só não basta, é pequeno demais! Num piscar de olhos já faz um ano! E é claro que essa data existe só para reforçar a ideia, para celebrar a vida porque o presente está aí todo dia, você! Uma estrela caiu do céu aqui nas nossas vidas, estrela Davi!

domingo, 29 de julho de 2012

"Não, eu quero uma ismãzinha!"



"Não, eu quero uma ismãzinha!" 
Era assim que você respondia à minha prima quando ela ficava lhe atiçando, dizendo que eu seria um menino.  Pois é, ismã, eu vim de acordo com a vontade do Pai, atendendo ao seu desejo de ter uma irmã com quem brincar, conversar... Em princípio, claro, a gente brigava de se enrolar no chão, afinal, criança é para isso! Ficamos sem nos falar e volta e meia ainda temos nossas rusgas, mas cada vez conseguimos ficar menos tempo longe porque família precisa estar sempre perto. Por esses dias eu tenho pensado muito na nossa infância na pequena casa da rua Narciso e me vem à memória como ficávamos sozinhas. Você, que ainda era tão criança, tinha a responsabilidade de cuidar da casa, de você mesma e de mim. Então, passávamos pelo começo da Amandiú, rua em que mora até hoje nossa avó, e uns meninos mexiam com você, chamavam por apelidos, aquela crueldade que é peculiar de muitas crianças, e eu prontamente respondia, dizia que isso ou aquilo era a mãe deles, os chamava de imbecis e achava que não apanhava por ter enfrentado. Hoje sei que era por ser pequena demais e menina, ainda assim, sei que era o jeito de a gente se cuidar e de eu retribuir seus cuidados comigo.
Há poucos anos, moramos ao lado da casa das gêmeas e a mãe delas, dona Zita, por muitas vezes me disse: "Eu achava lindo quando vocês passavam aqui crianças. Sua irmã segurava sua mão com firmeza, como se estivesse carregando seu bem mais precioso." 

É isso, nossa história até aqui é a pequena parte do nosso maior e mais precioso bem, nosso amor de ismã!

domingo, 8 de julho de 2012

Feliz ao seu lado

Minha vida é mais feliz ao seu lado. Seus olhos amendoados e como sorri ao me ver, saber que tem no meu colo o seu conforto e que meu abraço é um acalento para as suas aflições, são pequenas doses de combustível para minh'alma todos os dias. 
Durante as refeições, perco-me fazendo diversas coisas, mas basta esbarrar meu olhar no seu e perceber que estava há tempos me fitando que paro o que for e uso apenas os olhos para dizer que amo você, sem me utilizar da voz. Nunca estive tão aflita, pois quero ser o melhor de mim para ser para você. Sempre orei aos céus pedindo que meus passos fossem abençoados, só que agora peço que sejam firmes para acompanharem seu andar. E antes de deitar, nas últimas preces, peço que antes de ter o que roguei, que eu seja merecedora de tudo. Você me fez impaciente com o trivial e aplicada nos deveres. Passei a calar quando me machucam e a lutar com forças que nem sei de onde vêm se algo ou alguém ousa lhe fazer algo que fuja do divino. 

Depois de você a vida passou a ter mais sentido e quase não lembro dela antes, ficou vazia, sem respostas. Já tentei descobrir o que é isso, que nome tem e vi que não tem como descrever apenas como um sentimento, é uma ação, causada e sofrida, é uma força, um sentido e uma vida, é você, meu filho, minha cria.

sábado, 2 de junho de 2012

Velhice atemporal

Juntando os pedaços eu percebo que parei num tempo em que nem era nascida. Conversando por aqui e por ali, solto umas coisas que não condizem com minha idade. Uma amiga estava desesperada com uma roupa que fora branca um dia e agora estava totalmente encardida, me perguntando que produto químico usar para branqueá-la novamente. Falei para ela quarar a roupa e ela nem sabia do que eu estava falando. 
Eu gosto de chás calmantes, de quando em vez, num frio ou outro, bato uma gemada, coisa que nem minha avó faz mais. Gosto de cozinhar sopa, ainda compro mel para adoçar as bebidas, faço hidratantes caseiros e peelings com frutas e açúcares! 
Sou artesanal, apanho da tecnologia e me dou melhor com um livro ou caderno e caneta do que com o computador. 
Estava revendo um filme que gosto demais e num diálogo, certa personagem diz o seguinte à amiga: "Eu sou antiga desde nova!" Senti-me descrita ali. Só que como eu ainda tenho 25 anos, a fala seria: "Eu sou a antiga mais nova de todas!" Eu sinto como se depois desses 25 entra um 0 e fica pesado. Pesado no espírito, mas leve no ser. Às vezes sou meio mãe de todos, mas me sinto meio avó. Gosto de conversar com gente velha e curto o antigo. 
Nesses tempos da eterna busca pela juventude, posso ser considerada passada, nem ligo! Bom mesmo são os sentimentos que vêm juntos dessa velhice atemporal...

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Peito para dar de mamar

Hoje eu me dei conta que há tempos eu não faço uma refeição inteira. Eu estava esquentando o almoço, minha mãe chegou e se ofereceu para dar banho no meu príncipe enquanto eu comia. Enquanto ela o vestia, ele começou com aquele choro miado que é o de fome... Passei uma maionese no pão, pus um suco num copo pequeno e engoli em menos de dois minutos contados em relógio. Minha mãe veio com ele no colo para me entregar e quando me viu comendo daquela forma, riu e disse: "É, minha filha, ser mãe é isso." Sentei correndo, pus o seio para fora e ele começou a mamar. Pronto! Minha fome passou. 
É uma das melhores sensações do mundo ser a fonte de alimento de um filho, não dá para explicar! É uma heresia ler ou ouvir por aí que certa mulher não quis amamentar para que os seios não ficassem caídos. Eu tinha muito desse medo, não que eu achasse que não fosse amamentar, mas tinha o receio de quão flácidos ficariam. Eu estou com um maior do que o outro, pois meu bebê prefere um deles. Por mim, que fiquem murchos, que batam nos joelhos, que pareçam saquinhos de sacolé usados porque eu percebi que quando a causa é nobre, as cicatrizes são medalhas de honra ao mérito. E para quê são feitos os peitos senão para dar de mamá? A felicidade de se ter um filho deixa tudo o mais pequeno.  Entre fraldas, seios, noites não dormidas e refeições não comidas, percebi que felicidade é bem mais do que propaganda de margarina onde tudo é em ordem e perfeito, pois com todos esses detalhes que seriam tenebrosos, nunca estive tão radiante.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Para sempre inconstante

São tantos planos, tantas organizações e quando vejo, quase nada sai à maneira que eu quis. Algo sempre foge e fica maior, diferente. O planejamento é uma forma de controlar o medo, daí tudo muda e por pequenos instantes eu paraliso. Depois vem uma força de eu nem sei onde, invade tudo em mim e me impulsiona para a melhor solução. Sei que no fim, tudo dá certo e vejo que aconteceu do melhor jeito possível. É que na dificuldade vem o improviso, o raciocínio rápido, o exercício da inteligência, do reflexo e o crescimento. Mesmo sabendo que a vida é incontrolável, eu ainda tento, só que agora com a consciência de que provavelmente não será conforme a cartilha. 
No fim, no meio e no início, eu sorrio. Sorrio para as adversidades e até já fiquei amiga delas. Às vezes a gente briga, ela me pega muito com as calças curtas, mas depois a gente senta e ri de tudo porque vejo que lição ela me trouxe. É que durante a lição, ela não pode dizer seu propósito. Ela fica só observando se eu vou aprender, tomar nota e há muito eu parei de ignorar e passei a absorver.
A vida é assim mesmo, tem vontade própria, o para sempre dela é inconstante, muito diferente do nosso. E como é para ser vivida, é aceitar e aproveitar o que ela tem de melhor. Então, só se tem a ganhar.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

É a força do amor de mãe

Meu cabelo anda num eterno coque, nítido que não anda penteado. As olheiras deixaram de ser algo leve e estão em degradê de cores que eu nem sabia que existia para elas. Sobrancelhas precisando ser limpas, flacidez pelo corpo, uma barriga meio inchada e meio murchinha. Os seios pesados e com veias tão verdes que o deixam com aspecto feio de melancia. Os banhos andam curtos, bem diferentes daqueles antes que eram preocupados com a estética, agora é só para limpar mesmo. Os dentes, a mesma coisa. Nada de procurar pela brancura e sim, sentir a boca limpa e pronto. Os cremes por esses dias foram deixados de lado. Coisa que se eu contar, ninguém acredita. As refeições começam quentes, abandono e quando volto, termina de comer já gelada. As unhas já nem existem mais, debaixo de tanta pele só são lixadas, cortadas e escovadas. Estou com uma aparência de adoentada e ainda assim estou linda. Nada convencional, estou uma pessoa linda. Noites mal dormidas, criança chorando e acordando de duas em duas horas, dor nos pontos inevitáveis do parto, dor na tal da bacia que não volta ligeiro pro lugar e a todo instante parece que vai "transbordar". É que em meio a tudo isso há um gigante. Um gigante de 52 cm. Uma preciosidade que eu pego nos braços e ainda tenho dúvidas se fui eu que fiz mesmo, se é realmente meu. 
Quando o corpo pensa em desistir, se entregar ao cansaço, ter saudades do tempo que o cuidado era só com ele, eu dou um cheirinho na cabeça do meu neném, olho ele dormir e o vejo sorrir sonhando e pronto, é uma recarga nas energias que não tem tamanho. O bercinho dele ficou no quarto de minha mãe e na noite passada, com os pontos doendo muito, não sei como, quando ele deu um choro, pulei do meio da cama direto para o chão. Não cheguei nem a me posicionar na beira. É a força do amor, é a força do amor de mãe. Ver que, mais do que nunca, a beleza vem de dentro. Hoje eu sou linda porque o melhor de mim saiu e tem os olhos de jabuticaba que prendem toda a atenção. O melhor de mim tem como voz só o choro e com ele consegue tudo o que quer. Agarra meus seios para se alimentar e suga, machucando, mas toda dor fica pequena ao ver que ele adormece em meio às mamadas e suspira profundo. Quem está dando os banhos é a vovó e ele já conhece minha voz e se chego e falo alguma coisa, ele faz manha e ensaia um choro. Agora ele está dormindo e a noite é curta. Acorda de duas em duas, três em três horas no máximo. Só que olhar no relógio e ver que dei conta de mais um dos primeiros dias, traz uma força tamanha e, de novo, me faz linda, no ser.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Amor de Deus

Vim caminhando pela vida e, inevitavelmente, acumulei sonhos. Alguns eu alcancei, outros não, alguns outros não se encaixavam mais na pessoa em que me tornei. Bom da vida é que cada vez que Deus lhe tira um sonho, Ele põe algo ou alguém para ocupar aquele espaço. Muitas vezes a pessoa não cabe, pois é muito maior do que o sonho. A gente também pode nem reconhecer, pois ainda somos pequenos e nos apegamos às ideias. Estou grávida e não sinto que serei mãe quando der à luz Ignácio. Eu sou mãe desde sua fecundação. Ser mãe para mim é abdicar de nós para ser para o outro, é um amor que nenhum conto de fadas contou até agora, pois para falar do amor sublime que Deus nos concede junto à maternidade, seria conto de anjos, pois as fadas seriam pouco. 
Além de sentir um amor que nada até agora se equipara, me ver mãe, gerando uma vida, me faz olhar para a minha mãe todos os dias com outros olhos. Nossa história é praticamente a mesma com a primeira gravidez e ter a dor na nossa pele é muito diferente de ouvir a história. Então, eu que sempre valorizei minha mãe demais, sei que não há valor a ser dado pelo que ela fez e faz por mim todos os dias. Reforcei em mim a ideia de que os laços do amor, do carinho e da amizade independem de sangue, pois o que mais vale é o espírito, pois ele sim é eterno. E reforcei também que o amor é uma plantinha, só precisa de água e Sol para crescer e florescer, pois de resto ele faz o trabalho sozinho, tira da terra em que foi plantado, o coração.
A hora do meu Ignácio nascer está chegando e durante a gravidez inteira eu nunca estive tão calma, o que causa espanto em muitos. É que a luta até aqui foi árdua e o nascimento marca, com muito vigor, uma nova fase da minha vida que ao mesmo tempo em que assusta, me faz olhar para os céus e agradecer desde a água que bebo até a maior das dores, pois eu entendi que Deus me confiou uma vida que vai depender de mim por muito tempo e tenho a missão de ajudar a formar um caráter, melhorar um espírito. Dá um medo, mas ao mesmo tempo, um sentimento de gratidão, pois Ele está me confiando um de seus filhos, uma criatura Sua para que eu o ajude a tomar conta, sendo assim, não há nervosismo que chegue e fui invadida pela calmaria do amor de Deus.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Celestial

Estive junto a você, mas sem poder tocar, a não ser com palavras... Esbarrar na sua mão de quando em vez e passear as mãos nas suas costas como se fosse acidentalmente, porém com o intuito de guardar seu cheiro em mim... Conversar quase sem olhar nos seus olhos com medo de que os meus me entregassem numa traição e aproveitando para fazer uma memória de cada som que sua voz produziu. 
De repente chegou sua risada. Eu tinha feito questão de esquecê-la, pois era uma das coisas que eu mais gostava, então reprimi qualquer memória para que a saudade não fizesse morada. Quando a ouvi, arrepiei-me dos pés à cabeça num calor que foi passando e trazendo toda memória à tona. 


Na despedida abracei-lhe num ímpeto que veio do coração. Senti seu toque e de novo seu corpo contra o meu. 

Daí peguei uma nuvem e voltei para casa, pois nas alturas  em que cheguei, não tinha como vir por nada que não fosse celestial...

quinta-feira, 29 de março de 2012

Carolinda

Eu sempre tive implicância com o nome Carolina. É tanta música para elas e eu me perguntava, por que? Só que minha implicância passou e cada vez mais eu acho que deveria ter mais música, pois para minha Carolinda, uma é pouco. Acho que deveriam escrever um soneto, mas só seria válido escrito pelo poetinha e como ele já não está mais entre nós, ninguém mais conseguiria fazê-lo. 
Carolina é aquela que mesmo sem eu conhecer, já gostava. Eu gostei só do que ouvi falar. Depois nos falamos pelo telefone, internet. Então, quando a vi, senti que ela traz consigo uma centelha divina. Seu abraço é de conforto e sua voz parece de uma mãe ninando. É tanta coisa que sentimos quando a temos por perto, mas não sabemos explicar, faltam as palavras. Mamãe, assim que ela foi embora, virou e disse: "Gostei tanto da Carol!" E quase não se falaram. Carol é assim, ela nos ganha mesmo no silêncio. É a presença da luz de sua alma. É ter perto e sentir o amor, o carinho... 
Carol invade nossas vidas, mas como se já fizesse parte dela. É como se aquele lugar já fosse seu. A gente até pensa que ela já sabe de todas as histórias passadas, porque ela tem essa familiaridade. 
Ela chega em nossas vidas e ao falar com Deus, ao invés de pedir que Ele a proteja, eu peço o seguinte: "Deus, permita que eu continue merecedora desse amor. Guia-me pelo caminho da luz e faça com que eu a tenha sempre por perto." Pois a Carol não precisa de mais nada. Ela é celestial. 
Já disseram certa vez e é verdade: "Todo sentimento necessita de um passado para existir, o amor não. Ele chega como que por encanto." 
Acho que fizeram isso para Carolinda!

quarta-feira, 21 de março de 2012

Evolução

Conversando com Vanessinha, contando os problemas que estão na roda agora, ela disse: "É tudo ao mesmo tempo, né, Prima?" E mais à frente na conversa, completou: "O que seria de nós se não fosse o espiritismo?" Tive de dizer: "Cortaríamos os pulsos!" Porque se não acreditássemos que tudo é merecimento e que tudo é retorno de vidas passadas, acho que em meio a esses turbilhões, desistiríamos. Só que vamos em frente, com resignação e força, pois Deus sabe de todas as nossas necessidades. Sim, necessidades e não vontades. Das vontades podemos tê-las, porém sem que sejam necessárias, pois somos egoístas. Viemos aqui para evoluir e a cada passo fazemos um caminho e esperamos que esse caminho seja o da evolução. 

Reclamamos, pois se ainda estamos aqui para evoluir, muito ainda temos que andar para entender e aceitar de bom grado, sem reclamar. Então a gente só aceita, mas com uns queixumes de quando em vez. Não que pensamos que não merecemos, mas fica a dúvida: "O que eu fiz para passar por essas dificuldades todas, pois se tudo é retorno, me ponho a pensar." 
Bom mesmo é trocar problemas, sem sadismo, só que saber que outras pessoas têm problemas também. É o não se sentir sozinha. É saber que Deus dá a mesma resposta a todos nós, que Ele é justo! 
Sendo assim, encerremos por aqui, chega de reclamações, afinal é tudo merecido! Logo, Deus, obrigada pela chance de sentir aquilo que eu já causei, pois a dor no outro é só sabida, em nós, sentida! 

quarta-feira, 14 de março de 2012

Na reta final que será o começo

Hoje fui à obstetra. Quando olhei o cartãozinho, surpreendentemente, estava marcada para daqui a 15 dias e não um mês. Perguntei a ela o porquê e ela disse: "É que agora no finalzinho é assim mesmo..." Finalzinho... Daqui a pouco meu Ignácio está aqui, fora de mim, sugando meu peito e chorando para tudo, pois ainda não vai saber falar o que quer. Só agora que mesmo que ele nasça antes, já pode correr tudo bem, ele já está formadinho e tudo o mais é que meu coração tem sossego. E é improvável que nasça antes, pois depois de todos os percalços, agora a saúde está bem e aqueles problemas todos foram sanados. 
Em princípio, nessa gravidez, eu me queixei bastante, chorei muito e sofri demais. Eram problemas profissionais, pessoais, financeiros, parecia que tudo estava contra, que tudo daria errado. Quando um problema era resolvido, aparecia outro, e outro, e outro... 
Fiquei questionando a Deus qual era o propósito dessa dificuldade toda. Só que o tempo dEle é grandioso e hoje eu entendo que meu filho, além daquele amor maternal que já é comum a toda aquela que aceita o sentimento de mãe, eu tenho com ele algo além. É uma proteção, uma vitória... Meu filho é minha maior conquista. Ele me faz entender que a todo o resto que eu dava tanta importância, ficou pequeno, sem importância. Gerar um filho nessa dificuldade danada, me fez deixar de ter aquela vaidade de grávida, aquela coisa de me achar linda e especial, pois a todo momento minha gestação estava por um fio.
Eu me senti muito frágil e vi que gravidez não é essa coisa linda que ouço dizer por aí, é muito mais. É uma coisinha que se mexe dentro da gente, feito um passarinho assustado, tão pequeno e tão imenso. Eu vivi em função dele. Sem fazer o que eu gosto ou queria, me alimentando por ele, cuidado com a roupa, com a alimentação, exames que muitas vezes quando o médico passava, eu deixava de fazer, agora é tudo à risca. 
Além desses cuidados todos, uma coisa que eu percebi, é que a maternidade me aproximou muito da minha mãe. Como tivemos filhos na mesma situação, é entender muitas das coisas que ela falava e eu achava chato, desnecessário e ver o cuidado que ela teve comigo e tem com ele, pois quando nos vemos mãe, alguém comprar um alfinete que seja ou ligar e perguntar do seu filho é infinitamente maior do que qualquer ligação da vida para saber de nós. É que o amor pelo filho anula o amor-próprio, pois o próprio amor cresce no ventre e primeiro ele, depois eu. 
Ainda tenho muitas preocupações, mas todas elas em deixar a vida do meu Ignácio melhor, gostosa e cheia de amor. Já que Deus me concedeu a dádiva de ser mãe e sentir esse amor, creio que ele dará a força necessária para que eu exerça meu papel da melhor maneira possível.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Tanto mulherão não cabe num só dia!!!

Dia desses ouvi alguém dizer que fulana era um mulherão. Logo em seguida, a fulana sentou ao meu lado e eu não vi isso. Eu vi uma mulher fisicamente bonita, mas quando abriu a boca mais parecia um vaso vazio. Um vaso lindo, mas eu penso que por mais lindo que um vaso seja, sua beleza se inutiliza se ele se mantem vazio. 

Minha mãe é um mulherão... Não! Ela não sai em capas de revistas dando receitas de como ser linda e sem celulite aos 50 e poucos anos. 

Só que sem sombra de dúvidas ela é muito mais que as chamadas divas que vivem sob holofotes! Ela é uma Deusa! Ela trabalha muito, criou duas filhas sozinha, encarou o mundo, é mãe, profissional, faxineira, cozinheira, avó, estudante, pedreira, decoradora, médica , enfermeira, resumindo, ela tem super poderes!!! Muito mais poderes do que uma mulher apenas bonita fisicamente. Então, ela é que é um mulherão.
Certa vez fui a uma jogada de búzios e a moça disse: "Você é uma guerreira!" Nem todas as cantadas que recebemos na rua, todos os elogios ligados aos atributos físicos me alegraram tanto quanto esse. Pensei que algo do lindo que vejo em minha mãe cresce em mim. E agora que estou a trazer ao mundo meu filho, mais do que nunca, me sinto um mulherão. Não só pelo simples fato de gerar uma vida, pois muitas mulheres fazem isso e ainda assim não são mães. Hoje eu não vivo com cuidados pelo meu filho, eu vivo em função dele. Gravidez complicadíssima em todos os aspectos: físico, moral, psicológico... Mas minha sábia vozinha disse-me certa vez que Deus não nos dá uma cruz maior que nossa força e tudo nos engrandece. Vivo em função do meu filho e me privo todos os dias de um monte de coisas que eu fazia como respirar, naturalmente, pelo bem estar dele. Pela minha crença, essa coisa de não pedi para nascer não existe, a gente pede sim, mas ainda assim, ele é minha prioridade, meu foco. Porque mesmo acreditando que ele pediu para vir, antes mesmo de eu nascer, lá em cima a gente já aceita essas coisas todas em prol do nosso crescimento espiritual e a melhor coisa é não reclamar e sim agradecer pela oportunidade.
Então, assim como a minha mãe, muitas mulheres que conheço são mulherões!!! E o dia de hoje cabe mais a elas que são vasos com flores de todas as cores, mesmo com rachaduras, às vezes com poeira, mas sem deixar nenhuma flor murchar! A todas nós: Feliz dia das super mulheres!!!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Seja feliz

Abra para mim o seu sorriso, pois eu acredito que ele é a porta do coração.
Deixe-me ver suas lágrimas e tranquilize-se porque eu nunca vou-lhe dizer para não chorar. O choro é o desabafo da alma aflita e só ouvindo o que sua alma tem a dizer que eu posso socorrê-la.
Desamarre os braços e se encaixe no meu abraço. Meu colo é de mãe e até na zanga mora a ternura.
Não carregue culpa, apenas tome-a como lição para seus erros e perceba que seu erro pode ser aprendido também por aqueles que lhe cercam.
Seja feliz! E não pense que felicidade é sorriso o tempo todo, pois o choro é alívio da dor.
Então, se consegue chorar franca e abertamente e sorrir com a pureza de um bebê, já é feliz!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A razão, o coração e o segredo

Quando eu fico em casa só, normalmente desligo a tv e ligo o rádio para os afazeres domésticos.
Ontem não! Ontem os gritos que vinham de dentro de mim estavam ensurdecedores e quaisquer ruídos seriam verdadeiras algazarras! 
Depois de reclamar sobre aquele barulho todo, resolvi sentar e ouvir, então entendi.
Eu quis ter um segredo e esconder de mim.
Eu fiz esse segredo, porém eu descobri.
Tentei outros segredos e ainda assim eu descobri.
Depois eu tive medo e me arrependi.
Daí eu entendi que o coração quis enganar a razão. Só que por mais dura que ela seja, no choro, ela faz-se colo.
Com o coração aos prantos por conter esse segredo, fez-lhe um afago e mesmo com o discurso áspero, ouviu meu coração dizer: "Eu gosto de você até quando tem zanga de mim!"
E fim, enfim...

domingo, 29 de janeiro de 2012

Cheia de mim!

Estou “cheia de mim” por conta dessa gravidez e ao mesmo tempo por ser cheia de outro. Feliz, pois agora sou um Universo, o mundo do meu pequeno Ignácio. Mulher já nasce com instinto maternal, dizem, mas nada se compara a ver meu corpo crescer para fazer um outro corpo. Mulher sofre demais na sociedade machista em que vivemos, mas nenhum homem que se ache o mais poderoso de todos vai ter em si o poder de gerar uma vida. Então, todos os incômodos, preceitos e preconceitos do mundo feminino perdem a importância quando meu filho mexe em mim, quando dá a hora de tomarmos café no dia da minha folga ele mexe, mexe e mexe até eu acordar. Falta falar: “Mãe, tô com fome!” Eu levanto, como e volto a dormir. 
Dormi de bruços a vida inteirinha, mas agora não dá mais e até acostumar, as olheiras ficaram profundas, truque com travesseiros e edredons para fingir que é de bruços. 
Tomando tantos remédios e com tantos cuidados pelo fato da gravidez ser de alto risco. Tem uma música que gosto bastante onde o cantor/autor diz: “Deus, obrigado pela dor, pela saúde!” E eu entendo, pois é da dor que tiramos as maiores lições e é nela também que valorizamos a saúde. Todos os dias, em minhas orações, eu agradeço pelos inúmeros sufocos dessa gestação, tanto na saúde quanto nas questões sociais. Eu estou feliz e plena. Quantas mulheres passam a vida tentando ter seus filhos e não conseguem? Eu consegui, num “acidente”, mas consegui. Acidente? Não, Deus sabe de todas as coisas e nem uma folha cai duma árvore se não for da vontade dEle. Ignácio vem na hora que tem de vir. Fiquei muitíssimo assustada, mas agora só sei fazer sorrir. Estou vendo o mundo num tom cor de rosa onde tudo é amor! Ao mesmo tempo, estou sem paciência para coisas que vinham se arrastando pela vida e estou eliminando o que não me trazia nada de bom, pois agora eu serei o exemplo e dá muito medo de errar. Não que eu vá ser uma mãe perfeita, dessas de ficção, mas aquilo que eu consigo enxergar como errado, estou retirando, pois agora terei um caráter além do meu para ajudar a formar. 
Sendo assim, isso tudo é só para desejar a todos que lerem isso uma excelente semana! Que o amor que eu sinto hoje por essa dádiva, por essa benção que Deus me confiou, possa invadir seus lares e principalmente seus corações. Um beijo!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Saravá e amém!!!

Sou kardecista! Quando falo isso perto de pessoas de certas religiões, rola um preconceito, mas tudo bem para mim, pois sei que o preconceito nasce da ignorância, do não saber. Dia desses me perguntaram qual era o meu Deus! Deus, ué! O mesmo que o seu! É o mesmo Deus, o mesmo mestre Jesus! Eu morro de rir! Acho que a pessoa pensa que pudesse haver um Buda, Shiva, não sei... Primeiro pensam que é algo ligado à macumba, pois eu falo de tudo. Outra coisa que me perguntam muito é se sou evangélica, pois se alguém fala algo e o ambiente pesa eu digo: "Está repreendido!" Ao mesmo tempo, adoro uma música que fale da curimba! O som dos dialetos africanos me soa bem... Então, eu falo mesmo! 
Dia desses minha mãe me ouviu cantar um samba cheio de menções às religiões africanas e fez: "Ih!!!" Engraçado é que ela já foi curimbeira, evangélica e etc. Principalmente etc. Deveria ser mais flexível, mas eu finjo que não ouvi! Gosto e pronto! Não que eu vá despachar ebó na esquina ou pôr a bíblia debaixo do braço aos domingos. Só que eu sou ecumênica e para mim, se é para o bem: Saravá e amém!!!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Lei do retorno

Uma amiga minha, assim por mensagem, acho que para não expôr a situação, me aconselhou a não ficar maldizendo o pai do meu filhote. Acontece que eu não o maldigo! Eu apenas digo o que ele fez e continua fazendo. Eu contei sobre nosso filho, ele falou em aborto e até hoje não ligou ou mandou mensagem, sinal de fumaça... Acho que de alguma forma essa amiga tomou para si a vergonha que é essa situação. Vergonha para mim??? Não, não! Dia desses me deram os parabéns, pois muitas em meu lugar tirariam a vida desse filho. Para mim é uma vitória. Passei e passo por muitas devido a essa gravidez de alto risco: rodei de hospital em hospital, fui jogada daqui pra ali, sem o amparo daquele que deveria ser meu apoio. E não que eu pensei que o dito cujo devesse casar comigo e constituir família. Não! Até porque eu sempre soube que desse mato não sairia coelho e eu nunca fui mulher de sonhar com a brincadeira da casinha. Sempre tive uma visão mais prática, até meio masculina, mas eu falo em como pode um camarada que já tem uma filha e diz ter tanto amor por ela, mandar matar um outro filho. Porque não, assim como corre certa fábula na internet, matar aquela que já vive e tem seus 4 ou 5 anos. É menos um risco, seria mais fácil. Deus livre! Eu só fico impressionada com tamanha covardia! Tirar a vida de alguém que nem pode se defender. Eu não tomo nem remédio para dor de cabeça para que não afete o bebê e ele querendo que eu enfiasse algo que triturasse meu pequeno. Graças ao Pai, esse ser cresce em mim, pois já imaginou se fosse nele e ele sumisse e me reaparecesse sem meu filho no ventre??? Acho que me faria endoidecer. Ainda bem que ele cresce em quem o quer e o ama, pois apesar de nós mulheres já nascermos com aquele instinto maternal, ele parece se multiplicar ao infinito quando o barrigão começa a crescer. Apesar dos milhões de desconfortos da gravidez, que nem caberia aqui contar, a vida fica num tom adocicado e parece que o amor emana de nós. 
Então, no fim de tudo, eu tenho é pena daquele sujeito, pois eu confio na lei do retorno e num caso como esse ela é tão cruel. Não que Deus castigue, isso não existe, mas Ele faz tudo o que jogamos voltar para nós. E para quem quer tirar uma vida, nossa, penso eu, vai sofrer numa sobrevida triste, infeliz.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Artificialmente

Ontem de manhã, esperando a condução para ir trabalhar, veio em minha direção uma moça jovem com silicone nos seios. Era escandalosamente visível! Ela tinha um corpinho daqueles que os antigos chamariam de jeitoso, não era magra nem gorda, era toda bem distribuída, mas aqueles peitos enormes e duros estavam gritantes! 
Ela estava com uma blusa de uma alça só. Enquanto andava, tudo nela balança junto com seu caminhar: barriga, bochechas, pernas, todas as carnes tremiam, menos os peitos. Ela era baixinha e acho que pôs uns 500 ml em cada seio. A blusa escorregava, pois acompanhava seu andar, mas os peitos ali, duros, pareciam de manequim de vitrine, então a todo instante ela tinha de suspender o lado da blusa em que não tinha alça, pois para aquela blusinha, era impossível se moldar aos peitos! 
Todos na rua olhavam para ela. Eu achei graça e comecei a rir, mas nela sentia-se nitidamente um orgulho dos peitos. Só que estavam beirando o ridículo de tão exagerados. 
Daí isso me pôs a pensar outra coisa, como nós estamos escravos da beleza, não? Certa vez me disseram: "Eu sou tudo o que disserem de mim e ao mesmo tempo não, pois para você eu sou bacana, mas para o outro eu posso ser um chato sem fim." Então, eu percebi que padrões de beleza são inválidos, pois não adiantaria as mulatas quererem ser louras platinadas com lentes verdes, tudo artificial. Deixariam aqueles que gostam de multas órfãos. Não que não devamos nos cuidar, eu sou até bem vaidosa, mas temos de achar um limite para tudo isso, pois quando fazemos algo para melhorarmos e aquilo fica visível, se destaca de nós e chama a atenção sozinho. Aí a gente some e só aparece aquilo, como objeto de adorno. Assim como os peitões da menina baixinha... Eu sou louca para fazer um nariz novo, mas ao mesmo tempo penso: "Sem ele não serei totalmente eu!" Uma das partes de mim é implicar com meu nariz. Seu eu corrigi-lo, a única coisa em mim que me incomoda, eu não vou ter mais do que reclamar e se achar perfeitinha deve ser um saco, ou então, gostar tanto do nariz novo e ficar olhando no espelho incansavelmente, eu ficaria com nojo de mim mesma. Acho que depois da peitudinha do silicone, vou deixar assim.
  

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A moça gorda e seu bolinho

Hoje fui à minha consulta do pré-natal. Então, peguei um ônibus diferente. Um monte de desconhecidos. Não que eu conheça todos na linha em que pego habitualmente, mas os rostos se tornam familiares. 
Numa certa altura, entrou na condução uma moça gorda com duas bolsas grandes e cheias: uma feminina e uma mochila. Pediu-me licença, pois eu estava na beira e ela quis sentar no canto, dei passagem. Ela era inquieta, mexia nos milhares de bolsos o tempo todo. Parecia que estava tentando evitar alguma coisa. Tentativas infelizes! 
Puxou de um daqueles compartimentos um pacote com um bolinho de baunilha recheado com chocolate. Devorou numa fração de segundos. Depois a fitei olhando o valor energético na embalagem. 
Sorri para mim mesma e se ela lesse pensamentos, me ouviria dizer: "Querida, agora não adianta mais!" Acho que ela ficou com raiva de si mesma por ter comido o bolinho tão calórico e começou a dobrar o plástico com uma força que me espantou. Quando chegou na menor parte possível, ela ficou apertando por um bom tempo. Depois enfiou numa das bolsas. Acho que cansou de lutar contra a culpa!
Seja na alimentação ou em qualquer outro ramo, quem nunca peca para sentir uma culpinha, por mais boba que seja, perde o sabor do prazer da traquinagem.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

"Mãe, tô aqui com você!"

Eu estou horrível!!! É isso que me vem à cabeça toda vez que me olho no espelho. O cabelo anda ressecado, a pele brilhando demais, meu umbigo está vindo para fora, uma listra escura está na minha barriga de ponta a ponta, os bicos dos seios estão num tom de açaí concentrado, já aparecem umas estrias aqui e ali, ainda tímidas, mas presentes, os pêlos e unhas crescem na velocidade da luz, enfim: Estou horrorosa!!!
Cada vez que começo a desanimar com minha aparência, uma coisa que sempre cuidei tanto, Ignácio dá uma pirueta na minha barriga com força tamanha que até assusta. Parece que eu ouço ele dizer: "Mãe, tô aqui com você!" Mais do que comigo, em mim... Daí eu desamarro a cara e dou um sorriso, levo a mão à barriga... Eu tenho um pânico de como é veloz como o corpo cresce, se transforma. Fico pensando que nunca mais ele vai voltar pro lugar, que nunca mais uma roupa vai ficar direito, daí ele dá mais uma mexidinha e eu desmancho toda. 
Estou de mudança e arrumando os móveis, peguei as roupinhas que a vovó deu de presente para ele. De repente me deu uma vontade de que ele nascesse logo, antes eu tinha medo, adorava a demora do tempo, mas às vezes eu fico louca para ver a carinha dele logo, saber que cheirinho ele vai ter, afogá-lo nos peitões que estão se expandido para ele mesmo. Imaginar aquele ruidinho que é meio do sugar e meio da respiração, vê-lo dormir, ouvi-lo chorar e saber do que é choro, pois mãe sempre sabe.
Mãe! Eu ainda me acho tão menina e agora mãe! É uma coisa duma responsabilidade que até assusta. Ter de ser o exemplo, a força, o colo, o chamego, o abrigo. Será que eu consigo? Sempre acho que não e nos meus medos parece que a força têm vindo dele. Cada medo que dá, vem sua mexida e é como o afago.
Não existe uma cartilha para ser mãe, mas a força do amor que nos invade com essa dádiva ensina mais do que qualquer escola que ousasse existir.