sábado, 26 de fevereiro de 2011

Eu queria

Eu queria assistir aos seus sonhos como aos filmes, pois me dói não participar do que quer que seja em você.
Queria ser água, entrar no seu sangue, fazendo das veias minhas vielas, passear pela boca em saliva, saltar pelos poros, suor.
Queria ser pele e revestir-lhe, protegendo seu interior.
No seu choro, sair, materializar-me e ser aconchego.
No seu coração, amor. De preencher qualquer vazio que possa haver.
Quero ser eu para ser para você.
Roubar seus desejos só para realizar.
Encontrei  uma garrafa. Peguei seu cheiro e dele fiz perfume.
Pus uma fotografia do seu sorriso lá no pensamento. Passo o dia olhando para ele e qualquer problema é ínfimo.
Fiz uma oração... Agradeci a Ele por tudo. Depois voltei atrás, pois amor não se agradece.
Entendi que só com muito amor por mim Ele pôde permitir que eu tivesse você na vida.
Encontrei um jeito bom contra a saudade: Tenho você dentro de mim e daqui ninguém pode levar embora.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Cata-vento

Vou comprar um cata-vento!
Com ele vou prender sua respiração
E soltá-la em meu pulmão.
Com uma haste de cada cor, soprarei tão rápido que farei um arco-íris para roubar a atenção dos seus olhos.
Em tais cores porei meus matizes e pintarei tudo de mim em você.
Farei carinhos e beijos tão doces de prender criança para sempre.
Vou idealizar o amor que quero para mim em você e desmontá-lo a cada gesto seu de surpreender.
Vou descobrir que gosto mais de mim quando estou ao seu lado, pois nesse estado sou reflexo de suas maravilhas.

Em suas mãos serei pequena de brincar e ainda assim preencherei sua grandeza.
Vamos beijar e ser um só, abraçar e dar um nó.
Depois de tudo, parar! E no olhar saber o que é amar.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Eu quero ouvir o mensageiro dos ventos...

Eu vejo todo mundo passar pela vida correndo tanto. Isso me assusta. São tantos cursos e tantas graduações e pós e tudo que parece que a vida é para estudar e trabalhar, e trabalhar para pagar mais estudos. Eu fico pensando: Que horas a gente brinca? Que horas basta? Que horas a correria deixa de ser cotidiana? Eu lido com jovens, mais velhos e tudo. E vejo: ninguém tem memória. Eu falo uma coisa com um amigo hoje e se amanhã eu for retomar o assunto, só ouço: "Ih, amiga, nem lembro. É tanta coisa na cabeça." Isso me assusta, muito. Que hora do dia dá para sentar e sentir o vento no rosto e ouvir o barulho do mensageiro dos ventos? Hora nenhuma! É trabalho o dia todo, e chega e arruma tudo, e cuida da casa, e vai estudar, e volta, e come, e toma banho, e vai dormir. Acabou o dia. E o outro e o outro e... Queria sentar com meu amor no portão e olhar as crianças brincando e sorrir. Só que não tem nenhuma criança na rua mais. Elas estão estudando e fazendo cursos para serem adultos que estudam mais ainda. As crianças passam sérias, de mãos dadas com as mães, correndo, mas não para brincar e sim para acompanhar os passos dos pais apressados.
Eu estava mexendo nuns guardados e vi uma coleção de uma coluna que eu lia na adolescência. Eu parei e fui procurar saber sobre o autor, Antônio Prata - Estive Pensando, Revista Capricho. E senti muitas coisas da adolescente que eu fui. Eu queria mudar minha vida radicalmente. Parece que tinha raiva do que eu era. Sei lá, mas é boa a sensação de que eu poderia fazer o que quisesse. Eu podia  mudar o mundo. Nem que fosse só o meu. Mudei! Não tanto as coisas à minha volta, mas principalmente as coisas dentro de mim. Os quereres são tão outros. Tão melhores. Mas de uma coisa eu  tenho saudade, na minha adolescência eu podia sentar e ver as crianças brincando. Parece agora que criança é uma espécie em extinção. Eu quase não vejo. De vez em quando eu procuro olhar para trás, exercitar a memória, pois ela me explica, como ninguém, como é que eu cheguei aqui. É uma loucura. Será que eu tento sanar a loucura do mundo ou me deixo levar e passo a ser louca também? Sei lá. Acho que eu já até estou totalmente envolvida nisso e digo que não para mim mesma, para acreditar. Pelo menos na minha cabeça eu sou livre e nesse mundo robótico eu brinco de desligar o botão. Sento no chão, ouço o barulho do mensageiro dos ventos e se não tem criança na rua, eu fecho os olhos e busco a risada da criança que eu era e que ainda mora dentro de mim.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O amor tem dessas coisas!

Eu fico longe, mas trago você comigo sempre.
Algumas pessoas se perpetuam em nós e nem o tempo ou a distância fazem com que elas sejam menos vívidas. Parece que vi você ontem. Percebi que não vejo há semanas. E só percebi porque senti uma forte pontada no coração. Era a saudade. Saudade é uma coisa cruel. Ela faz a gente sentir falta de coisas que não damos valor quando temos por perto. Lembrei da sua risada. Aquela coisa toda que faz a gente rir do seu riso de tão gostoso que é. Olhei para nossa cama. Agora tem um travesseiro a mais. Perguntei porque. Um travesseiro a mais e uma pessoa a menos. Os passos na nossa cama eram rotineiros. Eu dormia virada para a parede. Você chegava, me beijava o ombro, cheirava meus cabelos e apoiava a perna no vão que se formava em minha cintura. Tudo marcado como num balé! Depois você cansava, virava de barriga para cima e eu deitava em seu peito. Aí é que entra meu travesseiro a mais. Depois que a cama passou a ter uma pessoa a menos eu fiquei semanas a fio sem dormir. Exausta, abatida, meio sem rumo. Comprei um travesseiro para pôr ao longo do corpo e enganar que era você. Funciona bem às vezes. Eu olho pros móveis e lembro da gente decidindo que seria aquele a ser comprado. Tenho pensado em trocar alguns e, involuntariamente, peço sua opinião à minha memória. Falo de você em conversas como se fosse vê-lo na cama à noite. Às vezes sonho que você  está e acordo dando risada de mim mesma. Vejo um objeto seu que ficou para trás e sorrio também. É como se ali estivesse um pedacinho de você. O amor tem dessas coisas, eu amo seus detalhes bobos. Tudo confuso e sem explicação. Mas quem quer explicações? Amor  é para sentir.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Preta, negra ou mulata: Cheia de manias.

Eu sou cheia de manias. Se eu estiver andando na rua e vir um fio molhando desde a parede e formando poça eu grito: "Xixi humano!" E não piso de forma alguma. Tenho uma espécie de TOC e não gosto de nada em meus   pés. Por mim andaríamos todos descalços o tempo todo. Estou envelhecendo e tendo mais manias. Eu durmo com os pés para fora da cama, mas isso eu já contei em algum perfil por aí. Falando em perfis, por que tantos? É tanto login e senha que não sei mais meu nome de batismo e minha data de nascimento. Dia desses recebi um convite prum tal Ebbano, só para negros. Recusei, pois se fosse só para brancos não seria racismo? Mas para negros é o tal Black Power. Falando nisso, hoje eu sou negra e percebi que isso é de acordo com o meu cabelo. Quando eu o usava anelado e pela cintura, eu era "morena" e as pessoas discutiam comigo se eu discordasse. Cortei os cabelos e fiz um penteado afro. Sei que só me chamam de negra agora. Mas eu quero ser mulata, como faz? Uma vez me repreenderam e disseram que o nome mulata é mistura de mula com alguma coisa. Ouvi dizer que é porque o tom da pele se assemelha ao pêlo da mula. Eu gosto da palavra mulata. Enche a boca, sabe? Eu tenho essas coisas com as  palavras. Uso as que têm o som melhor. Falando em som, eu prefiro a palavra barulho e meu professor de violão fica me corrigindo. 
Ele tem a pele num tom chocolate lindo. Eu conheço muita gente branca que tem a pele mais escura que a minha. Então eu sou o quê? Preta eu acho que não. Também já fui repreendida por falar preta. Disseram-me: "Preto é cor, negro é raça." Mas eu gosto do barulho que preta faz.
Mamãe é branca do cabelo liso escorrido. Papai é preto num tom azulado lindo. Então eu sou mulata. Pode ser cor de mula mesmo, nem ligo. É um bichinho tão simpático.
Uma coisa eu tenho certeza: Sou filha da miscigenação.