domingo, 24 de abril de 2011

Religiosidade

Exorcizar demônios... Não! Porque eu nunca acreditei em demônios. Eu lembro de quando eu era criança e sentia pena de gente ruim. Eu era integrante de uma comunidade evangélica em que muito se falava para o diabo ir para o inferno para sempre, mas eu secretamente pedia a Deus para que o tal não sofresse por toda a eternidade, pois era tempo demais. 
Quando eu fui adquirindo mais idade, passei a pensar que as pessoas têm mania de pôr culpa nos tais 'inimigos' e se isentar de seus atos e uma coisa que sempre me fez  enxergar como a ideia de demoníaco inválida é a teoria do 'livre arbítrio'. Numa altura da vida eu fui apresentada ao kardecismo e tive uma sensação de familiriadade com tudo aquilo onde nada me parece novo ou me surpreende. Sempre preferi tomar as responsabilidades das coisas que acontecem na vida. 
Demônios nada mais são do que as coisas que trazemos conosco e não conseguimos resolver. São nossos medos, aflições, traumas, agonias e quando a gente consegue falar sobre eles... Pronto! Exorcismo. Hoje aconteceu um aqui em casa, coletivo, familiar, extasiante. Não que eu acredite que nunca mais teremos problemas, mas vivamos o hoje e hoje, só hoje, esse é um problema a menos. 
A leveza da vida está na alma! É poder andar pelas ruas em meio ao caos e sentir o corpo sorrir por dentro, sem precisar expor sua bandeira, os dentes. Fazer as pazes com a vida e entender que ela não é cruel, é puramente o reflexo dos atos de cada vivente. Saber meu papel e empregá-lo com todo gosto. Minha vó diz que Deus não dá uma cruz maior do que possamos carregar. Então, toma um fôlego e vai! Acho que ando muito religiosa. Religião, no sentido mais denotativo da palavra, é aquilo que religa ao que é divino. Se é para ser assim, que eu seja religada, todo santo dia. 
Uma força invade o espírito, uma luz, que ela seja repartida num imensurável número de vezes, pois a chama da vela quanto mais dividida, mais ilumina.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Preguiças de inverno a dois

Ontem estávamos aqui, mamãe e eu, e ela falou algumas vezes: "Está esfriando..." Eu sempre fui a favor do calor. Sinto frio à toa e tenho uma teoria louca de que as pessoas tendem a não suportar muito o clima em que nasceram. Eu nasci no inverno e tenho muito frio, minha irmã no verão e tem muito calor e assim segue. A gente sempre ouve que aqui, o rio de janeiro, não combina com o frio. Eu penso que basta andar pelo centro da cidade que podemos mudar de opinião. É lindo andar pela cinelândia e ver o céu com nuvens, aquelas belíssimas construções e os executivos com sobretudos e as executivas com os terninhos mais lindos. Confesso que com a orla carioca esse frio não combina, mas claro que eu não vim aqui falar disso.
Inverno me lembra edredon. Edredon me lembra cama e cama me lembra abraço. Não é sempre uma época mais propícia ao amor entre casais? Eu iria pôr 'amor entre homem e mulher', mas tem casais de homem com homem, mulher com mulher e eu sou a favor de toda forma de amor. Será que sou só eu ou aquele friozinho remete vocês àquele amorzinho de cabeceira? Ir para cama depois do banho da noite e seu amorzinho vir e fazer um chamego, deitar no seu colo ou fazer você deitar no dele. Falar do dia que se passou e ouvir a frase: "Hoje aconteceu uma coisa que eu lembrei de você na hora!" E se sentir inserido no mundo do outro e ficar feliz só com o fato de ter alguém que pensa em você. Outra coisa deliciosa nesses amores é aquela mania de conversar e fazer as coisas e aí um fica andando atrás do outro pela casa, um tomando banho e o outro sentado no banheiro e conversando... Uma das melhores coisas dessas preguiças de inverno a dois é dormir e acordar pegando alguém olhando você com cara de bobo ou se pegar olhando alguém com a mesma cara.
Acabei de perceber que eu não tenho um amor para esse inverno. Pensei em publicar um anúncio: "Aluga-se um coração. Preço R$ amor incondicional." Nãããão... Essas coisas a gente tem de deixar acontecer naturalmente... Não é importante demais para mim o fato de passar o próximo friozinho só, na verdade é uma preferência momentânea... Voltei a sonhar com o príncipe. Infantilidade? Não, mas eu sei que ele existe. O príncipe nada mais é do que o homem que cabe no meu jeito e surpreende com coisas que meu coração nunca ousara sonhar, a princesa sou eu e o reino é feito pelos meus sonhos. Pode demorar ainda alguns verões, mas eu sei que ainda terei meu amor de inverno. Terei porque eu sempre fui boa em sonhar e alguns já se realizaram. Isso porque os sonhos tem a força do pensamento.

domingo, 17 de abril de 2011

Pirlim pim pim junto de um sim

Quero que o tempo seja um relógio de pilhas e eu as tirarei quando você estiver perto. 
Enfeitarei sua rua com esmeraldas claras e as iluminarei com raios de Sol límpidos como água de fonte, só pra deixar seu caminho bonito.
Darei ordens à natureza: mandarei florescer uma orquídea a cada sorriso seu e uma rosa a cada lágrima. 
Haverá de nascer um beija-flor para cada suspiro e uma borboleta azul para cada beijo.
Quando você tiver sono, se formará no céu um manto bordado com estrelas tão ou mais reluzentes que diamantes. 
Comporei músicas em que as notas serão ditadas pelo som de sua respiração.
As pinturas serão fiéis reproduções de seus alegres sonhos.
Os arcos-íris terão seus matizes e trarão consigo chuvas de purpurina, cada feixe liberando sua cor e fabricando nuvens de algodão doce.
Eu quero  ter o poder da transformação! Cada vez que você quiser algo me transformarei numa fada e farei pirlim pim pim junto de um sim, só pra te ver sorrir e assim, ter um jardim cheio de orquídeas e muitas rosas. Rosas nascidas das lágrimas de sua felicidade.
Vou desmitificar o utópico, pois o que provem do amor transcende qualquer racionalidade e é simplesmente possível. 
Desbravarei sua floresta de medos e seguirei ao seu lado pela infinitude do Universo.


sábado, 16 de abril de 2011

Guardados

Quantas promessas você já descumpriu? Quantos 'para sempre's' já se acabaram, inacreditavelmente, ali na nossa frente? Já sentiu um perfume e se virou para ver quem era e não era ninguém? Já se sentiu aluando? Por quantas vezes você já se sentiu sozinho no meio de um mar de gente? E quantas mais se sentiu acompanhado no vazio do quarto? Já se pegou acordando feliz de estar numa cama e se entristeceu ao ver que estava noutra? Já teve vontade de tomar banho de chuva e desistiu por lembrar que é adulto? Já se pegou vendo um filme com alguém e a pessoa comentou uma cena que acabou de passar e você nem lembra que filme está vendo? Já riu numa conversa só porque quem está contando a história riu também? Consegue definir 'felicidade' e consegue responder 'Sim' à pergunta 'Você é feliz?' sem hesitar? Tem saudades de um tempo em que você era mais feliz? Você mente para que os outros acreditem ou para você mesmo acreditar?
Eu tenho uma caixinha de maravilhas. Nela eu guardo alguns pedaços de pureza! Abri e ouvi uma risada que faz qualquer outro som ser bobo. Tem uma linguagem inventada com vozes infantis de uma terra distante chamada 'Nós dois'. Tinha uma menininha de mais ou menos 3 aninhos que saiu gritando: "Tia, tia, olha o desenho que eu fiz para você!" Ela foi dormir e a chupeta em sua boquinha fazia um sonzinho divino tipo: "Gne gne gne..." Tinha uma emoção cravejada de auto-confiança e ela poderia mudar quantos mundos houvessem. Tinha uma mãe que não possuía uma máquina de lavar roupas e estava no tanque com a blusa molhada até quase os seios e junto dessa lavagem tinha guardado um cheiro de sabão que tocava o chão quente e levava a gente flutuando pelo ar. Tinha umas músicas numas fitas bem velhinhas e todas cantadas sem um erro sequer. Tinha dois cachorrinhos, um que foi pego na rua com o pescoço machucado e uma outra que veio para casa e a primeira coisa que fez foi xixi no tapete, os dois pularam em cima com a euforia da saudade que os anos cruelmente cobram. Tinha umas balinhas que derretem na boca e pudim de pão. Tinha uma caixa de gizes de cera postos ainda na ordem em que vieram da fábrica, mas estavam usados. Tinha uma caixa de pirulitos que faziam a língua mudar de cor. Tinha o som de crianças correndo e gritando na rua e tinha uma trouxinha quase arrebentando de tão cheia. Quando eu abri saltou e brilhou um tempo lindo e novinho, vestido de amor.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Descaminho

Quem nunca teve a vontade de querer voltar atrás para fazer diferente?
O tempo não volta, uma ferida não fica aberta para sempre, mas deixa a cicatriz na pele de quem sofreu. O que é novo para mim já é velho para outrem e vice-versa. Meu desgosto é a paixão de outro e quando a gente percebe isso, aprende a aceitar diferenças. Eu tenho visto as pessoas falarem de seus ex's como quem se refere a um lixo qualquer, a uma coisa maligna, mas e o tempo em que aquilo foi bom, o tempo em que aquilo foi o amor de preencher o peito e tirar o ar? Penso que temos de aprender a dar mais valor a nossa história. Agradecer por toda oportunidade, pois tudo nos acrescenta. A pior das experiências tem um saldo positivo: o ensinamento. Uma coisa que chega a assustar é ver um sentimento se transfomar dentro da gente.  Eu olho para trás com a vontade de ter feito algumas coisas diferentes, mas eu não saberia que é erro se não os tivesse cometido. 
Agradecer pelo livre-arbítrio. Fazer e ver o retorno daquilo. Melhor investimento de todos. O lucro: sabedoria. Ser o que se é e só. Sem os erros, sem tais escolhas, não haveria acerto e a alma teria outra cor ou cor nenhuma. Mais à frente a gente entende a necessidade de tudo isso. Eu olho para trás com carinho e nunca mais pedi para ter controle sobre o tempo. 
O tempo é o necessário, a gente é que não entende, os erros existem para gente não fazer de novo... Errar é natural, somos humanos,  mas que coisa é essa de persistir? Burrice? Eu acho que é a tal sem-vergonhice e a gente segue nela. Quando estava aprendendo a ler, demorava um tempo reconhecer o som que se dava aquela letra com aquela outra, mas com o treino vai no automático... É para isso que o tempo serve, é o treino da vida e a leitura fica ali exposta, a gente que não quer ver. Eu decidi que quero e agora larguei de mão as cartilhas com desenhos para facilitar, estou pronta.
Por qual lado da estrada andar? Por qualquer um, pode até ser um descaminho, ele passará a ser caminho, basta caminhar. Por mais que eu não conheça esse ou aquele, não tem problema, meu passo está firme e seguro.
Eu agradeço pela dor, pela saúde, pelas chances dadas e as negadas, pois acima de tudo o que há de mais precioso é a chance pela vida e não há o que supere.

sábado, 9 de abril de 2011

Ariana de pai e mãe

Eu sempre brinquei com isso: "Sou ariana de pai e mãe." Dia 06/04 é aniversário de mamãe e dia 09/04 é o de papai. Todo amigo meu, num dado momento em que estamos nos conhecendo me pergunta: "Você tem pai?" Claro que tenho pai, minha mãe é guerreira, mas não descobriu como fazer um filho sem um. Eu tenho pais incríveis, mas nenhum dos dois tem jeito para a coisa. Meu pai muito menos que minha mãe. Eu tive pouco contato com meu pai durante a vida, tratando-se de quantidade, mas todo o pouco tempo que tive foi muito proveitoso.
Eu lembro das noites na casa do meu pai,  havia uma luz forte que ele acendia na altura dos seus olhos, uma luz branca, muito antes disso ter virado hábito no país. A gente via essas luzes só em  lugares públicos fechados como escolas, escritórios etc. Meu pai tinha uma em casa e eu achava aquilo o máximo. Meu pai era uma figura que me causava curiosidade e idolatria. Eu podia chegar à casa dele quando fosse que ele estava sempre de jeans, camiseta engomada, tênis impecavelmente limpo e boné. Ele tem uma voz tão grave que certa vez espantou até um namorado que eu tive. As lembranças que eu tenho do meu pai são marcadas. Ele chegava, arrumava os pássaros, lavava a roupa, nós jantávamos, ele acendia um cigarro,  pegava seu violão e tocava pela noite adentro. Eu tenho fascínio por música e todo conhecimento e a forma como eu me aprofundo numa obra, num cantor, autor se dá pela convivência com papai. Poucas vezes na vida eu ouvi um violão ser tão bem tocado. Pessoalmente eu nunca vi, só em espetáculos musicais, meu pai tem o dom em sua perfeição. Nascido no interior das Minas Gerais, cursou algumas séries no primário, mas tudo com a dificuldade que os interiores enfrentam: chão de barro, sem muitos livros, colégio sem estrutura, mas ainda assim papai é um dos homens mais inteligentes que eu conheço. Eu achava que conforme eu andasse pelo mundo, eu veria mais pessoas tão inteligentes quanto, mas o processo se deu inversamente: Quanto mais eu ando, mais eu vejo que ele é um dos mais inteligentes da vida. Eu que curso Letras, não tinha noção da babagem literária que papai traz consigo. Ele falou de coisas que eu tive que correr para acompanhar. Dizem que  as mulheres procuram no homem que querem ao seu lado a figura paterna, vai ver por isso eu ainda estou só, pois eu não acho ninguém como ele. É de uma singularidade intrigante.
O hábito de chamá-lo de pai foi tardio, lá pelos 17 anos. Essa nossa relação assim, meio bagunçada tem suas barreiras. Eu não chamava meu pai de nada, eu só chegava perto dele e ia falando. Eu sentia meu rosto esquentar de vergonha, pois eu queria chamá-lo de algo, mas pai eu não tinha coragem e pelo nome eu achava agressivo, então, eu só saía falando o mais rápido possível para ele não perceber. Até parece... Nessa minha criação totalmente sem convenções eu me criei assim do jeito que deu para ser. Sempre fiquei com nó na garganta do choro nas festas de dia dos pais na escola, mas é como diz a velha máxima, 'O que não mata, fortalece.' E eu me fortalece e aprendi a ter do meu pai, e aproveitar, o que ele tem a me dar. Cansei de tentar ser comum, aceitei que sou diferente e hoje e cada vez mais eu dou valor a tudo o que tenho, pois foi difícil demais chegar até aqui.
Uma das lembranças mais fortes que tenho dele é de  quando eu tive uma doença séria e fiquei internada. Meu pai que nunca se rendeu a demonstrações físicas de afeto, entrou no quarto e me beijou a testa. Nenhum outro beijo que ganhei na vida tirou, nem vai tirar, meu fôlego como aquele. Foi o amor de saber que papai não é alheio a mim, ele só é diferente. Sei que nossa relação poderia se estreitar, mas somos assim, cada um no seu canto, mas ele nunca terá ideia de quanta coisa eu tenho em meu mundo que foi ele quem me deu.
Feliz aniversário, pai!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Castelos de areia e picolés

Vai lá fora e me avisa se a manhã será de verão.
Daí eu separo aquele vestidinho leve e florido para a gente ir lá brincar.
Pus abaixo o prédio frio da esquina e fiz um parquinho com direito a pipoqueiro e o moço dos balões.
Tem um espaço com areia para  construirmos castelos e colocarmos bandeirinhas nas pontas.
As minhas serão azuis e amarelas, as suas eu ajudo a escolher.
Eu quero ir no balanço e ficar olhando para o céu e com aquela tontura que dá, ensurdecer e sentir que eu estou voando.
Chega o moço do picolé.
Eu tenho dúvidas entre o de uva e o de leite condensado, fico com os dois, um em cada mão.
A gente se lambuzou!
Não foi uma ideia boa cada um com dois sorvetes num dia quente desses.
O Sol está se recolhendo e vamos para casa com aquele sorriso de que nada poderia ser melhor.
E se amanhã fizer Sol? Uma praia cairia bem.
As sensações do mar? Isso dá uma outra história...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Minha diva

Hoje é aniversário da minha mãe. Eu sempre disse para ela: "Mãe, você não tem jeito de mãe." Ela achava graça e hoje eu escuto ela dizer que não me vê mãe, pois eu não tenho jeito. Se eu for uma mãe como ela é, eu posso ser sem esse jeito. Minha mãe sempre disse o seguinte: "A gente cria filho pro mundo e não pra gente mesmo." E sempre educou a gente de maneira que encarássemos a vida. A gente tropeçou, se rebelou, caiu, doeu, mas levantou, forte e com a sabedoria de quem caiu. Os filhos das mães com jeito de mãe aprenderam mais tarde ou nem aprenderam. Eu tenho amigos que não sabem lidar com coisas que minha irmã e eu tiramos de letra por conta da superproteção daquelas mães. Como diz uma música: "Prefiro ser assim." A gente em casa conversa como um grupo de 3 amigas, cada uma de um jeito, pois nessa coisa de sermos criadas pro mundo, cada uma fez sua turma, teve suas experiências muito separadas. É como o lobo e a matilha, no fim de tudo a gente traz o alimento da vida pro nosso meio. Minha mãe é guerreira! A gente briga para caramba porque ela me ensinou a lutar por tudo o que eu acredito e é natural eu ter outra visão de mundo, afinal sou outra geração. Ela foi mãe tarde para sua época. Minha mãe tem 30 anos a mais que eu. Quanto mais o tempo passa, mais eu a admiro. Uma mulher que lutou contra o mundo, o mesmo mundo para quem ela preparou suas filhas. Sei que o natural é uma mãe ter orgulho dos filhos, mas aqui em casa são as filhas que têm orgulho da mãe. De empregada doméstica a servidora pública federal, ela nos mostrou e mostra que tudo é possível, só depende do tamanho da nossa vontade. Feliz aniversário, mãe. Eu amo você!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Um sorriso, um coco, um choro e um vestido amarelo.

Hoje o dia passou todinho com aquela chuva fina. Foi um dia ruim para mim: experiência ruim, notícia ruim, mas se tem alguma plateia sádica no show da vida esperando eu me entristecer para aplaudir de pé, está  enganada. Dizer que eu passo incólume por isso tudo também é demais, eu sinto sim, mas podem me chamar de boba da corte, aquela que quer rir até em meio à desgraça, mas 'desgraça' é só uma questão de prefixo e meu talento é sorrir. Eu dei um sorriso pro dia de hoje e tratei feito criança que fez uma bagunça boba. Sei que dá para arrumar. A gente vai levando, cada um do seu jeito. O meu é ficar em casa, dar uns gritos loucos e rir da zorra total que foi o dia quase que num rendez-vous, mas até aí alguém tira proveito. Eu quero tirar o peso do dia fatigado e sorrir para a neblina da manhã que está por vir inocente e alheia ao que o ontem me fez. Eu fiz doce de panela e fiquei com a boca grudando com o melado que juntou o coco. O dia passou num turbilhão como num filme. Quando petrifiquei com os choques, pus música. A música é meu melhor relaxante. Pus os fones em meus ouvidos e vim olhando pela janela da van. Deixei entreaberta e senti as gotas de chuva no rosto. Tive vontade de chorar e nem sei se chorei, sei que escorreu pelo rosto, se era chuva de dentro ou de fora, isso eu nunca vou saber. Meu riso sabe, mas não quis falar. Ele apareceu tímido e meio sem força, se mostrou para mim e sussurrou atrapalhado com o peso de seus dentes: "Vai passar. Isso também vai passar." Eu já andei muito nessa vida de meu Deus e no lugar de achar que as pernas estão cansadas eu prefiro dizer que estão fortes e treinadas por tanta caminhada. Às vezes eu as deixo descansar, mas sempre determinando o prazo para que voltem ao trabalho. Quando as coisas não vão bem, eu fico fantasiando bem na hora de dormir,  cheia de sono e brinco de montar meus sonhos. Hoje eu vou pôr um vestido amarelo e correr pela praia com meu cachorro, pode ser só no sonho, porém o sonho é parte de mim e eu estarei lá, sem o corpo, só a alma sorridente. Por que amarelo? Minha cor favorita. É uma cor que passa sorriso, eu não sei o motivo, sempre foi minha predileção. O corpo está achando que é velho e cansado demais para essas coisas fortes, por isso eu fiz o beijinho, para lembrar para a língua que a gente já foi criança e criança cai e levanta até aprender a equilibrar a bicicleta, é fazer sem cansar, é fazer até saber e depois fazer pela felicidade de ter aprendido e desfrutar o gosto daquela conquista particular. A língua então calou e agradeceu pelo doce. 

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Eu te amei!

Eu tive um amor de conto de fadas.
Uma única vez na vida eu tive certeza de que naquele abraço nunca deixaria de caber meu pranto. Dizer que o amor acabou é muito cruel, eu acredito que o amor é como a energia: nunca se dissipa, sempre se transforma. E deixou de ser aquela delícia prioritária e caimos na balela de sermos dois indíviduos ao invés de sermos um casal. Fizemos o caminho inverso, começamos pelo fim. Findou, não o sentimento, a relação, como disse, o amor se transforma. Separados, seguimos caminhos que já havíamos passado e como não tinham aquele sabor do que foi entre nós, acabamos buscando nosso abraço, mas a reminiscência do que era, ficou só na memória, não conseguimos praticá-los. Medo, covardia, comodismo, estupidez? Talvez! Na hora do amor a intensidade ainda era incomparável, mas depois dela, ficava vazio. E o bom do amor é se estender pelo dia afora. A gente faz as coisas pensando no outro, das maiores às menores, desde comprar o que comer e pensar se ele vai gostar, até que casa comprar.
Eu briguei, chorei, cobrei, discuti, desisti! Não do amor, mas daquele amor. Passou,  hoje é o carinho do meu amor de cinema e só. A racionalização do amor é dolorida, mas às vezes é inevitável.
Peguei uma foto nossa que estava perdida numas anotações antigas e fiquei olhando fixamente. Percebi que o amor havia deixado de ser. A sensação que brotava em mim ao simplesmente ver sua imagem, passou. Eu tive no coração uma sensação parecida com a de ver a mim mesma numa foto na época de escola, por exemplo. Aquela saudade momentânea, gostosa, mas sem saudosismo, pois eu sei que vivi tudo à exaustão. Guardei a foto no mesmo lugar, pedindo que ela se perdesse, não que isso me causasse dor, mas é que eu quero reencontrá-la daqui a mais uns anos e ter as lembranças de novo.
Eu entrei no trem, enquanto ele partia, ainda lento, pousei nos degraus, segurei o balaústre, olhei quem fora meu amor um dia, acenei e gritei a plenos pulmões: "Eu te amei!" Uma lágrima aliviada correu pela face feliz.
Fomos um, mas agora o melhor é que sejamos dois e desde então, voltamos para nossas vidas separadas.