sábado, 16 de abril de 2011

Guardados

Quantas promessas você já descumpriu? Quantos 'para sempre's' já se acabaram, inacreditavelmente, ali na nossa frente? Já sentiu um perfume e se virou para ver quem era e não era ninguém? Já se sentiu aluando? Por quantas vezes você já se sentiu sozinho no meio de um mar de gente? E quantas mais se sentiu acompanhado no vazio do quarto? Já se pegou acordando feliz de estar numa cama e se entristeceu ao ver que estava noutra? Já teve vontade de tomar banho de chuva e desistiu por lembrar que é adulto? Já se pegou vendo um filme com alguém e a pessoa comentou uma cena que acabou de passar e você nem lembra que filme está vendo? Já riu numa conversa só porque quem está contando a história riu também? Consegue definir 'felicidade' e consegue responder 'Sim' à pergunta 'Você é feliz?' sem hesitar? Tem saudades de um tempo em que você era mais feliz? Você mente para que os outros acreditem ou para você mesmo acreditar?
Eu tenho uma caixinha de maravilhas. Nela eu guardo alguns pedaços de pureza! Abri e ouvi uma risada que faz qualquer outro som ser bobo. Tem uma linguagem inventada com vozes infantis de uma terra distante chamada 'Nós dois'. Tinha uma menininha de mais ou menos 3 aninhos que saiu gritando: "Tia, tia, olha o desenho que eu fiz para você!" Ela foi dormir e a chupeta em sua boquinha fazia um sonzinho divino tipo: "Gne gne gne..." Tinha uma emoção cravejada de auto-confiança e ela poderia mudar quantos mundos houvessem. Tinha uma mãe que não possuía uma máquina de lavar roupas e estava no tanque com a blusa molhada até quase os seios e junto dessa lavagem tinha guardado um cheiro de sabão que tocava o chão quente e levava a gente flutuando pelo ar. Tinha umas músicas numas fitas bem velhinhas e todas cantadas sem um erro sequer. Tinha dois cachorrinhos, um que foi pego na rua com o pescoço machucado e uma outra que veio para casa e a primeira coisa que fez foi xixi no tapete, os dois pularam em cima com a euforia da saudade que os anos cruelmente cobram. Tinha umas balinhas que derretem na boca e pudim de pão. Tinha uma caixa de gizes de cera postos ainda na ordem em que vieram da fábrica, mas estavam usados. Tinha uma caixa de pirulitos que faziam a língua mudar de cor. Tinha o som de crianças correndo e gritando na rua e tinha uma trouxinha quase arrebentando de tão cheia. Quando eu abri saltou e brilhou um tempo lindo e novinho, vestido de amor.

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