sábado, 9 de abril de 2011

Ariana de pai e mãe

Eu sempre brinquei com isso: "Sou ariana de pai e mãe." Dia 06/04 é aniversário de mamãe e dia 09/04 é o de papai. Todo amigo meu, num dado momento em que estamos nos conhecendo me pergunta: "Você tem pai?" Claro que tenho pai, minha mãe é guerreira, mas não descobriu como fazer um filho sem um. Eu tenho pais incríveis, mas nenhum dos dois tem jeito para a coisa. Meu pai muito menos que minha mãe. Eu tive pouco contato com meu pai durante a vida, tratando-se de quantidade, mas todo o pouco tempo que tive foi muito proveitoso.
Eu lembro das noites na casa do meu pai,  havia uma luz forte que ele acendia na altura dos seus olhos, uma luz branca, muito antes disso ter virado hábito no país. A gente via essas luzes só em  lugares públicos fechados como escolas, escritórios etc. Meu pai tinha uma em casa e eu achava aquilo o máximo. Meu pai era uma figura que me causava curiosidade e idolatria. Eu podia chegar à casa dele quando fosse que ele estava sempre de jeans, camiseta engomada, tênis impecavelmente limpo e boné. Ele tem uma voz tão grave que certa vez espantou até um namorado que eu tive. As lembranças que eu tenho do meu pai são marcadas. Ele chegava, arrumava os pássaros, lavava a roupa, nós jantávamos, ele acendia um cigarro,  pegava seu violão e tocava pela noite adentro. Eu tenho fascínio por música e todo conhecimento e a forma como eu me aprofundo numa obra, num cantor, autor se dá pela convivência com papai. Poucas vezes na vida eu ouvi um violão ser tão bem tocado. Pessoalmente eu nunca vi, só em espetáculos musicais, meu pai tem o dom em sua perfeição. Nascido no interior das Minas Gerais, cursou algumas séries no primário, mas tudo com a dificuldade que os interiores enfrentam: chão de barro, sem muitos livros, colégio sem estrutura, mas ainda assim papai é um dos homens mais inteligentes que eu conheço. Eu achava que conforme eu andasse pelo mundo, eu veria mais pessoas tão inteligentes quanto, mas o processo se deu inversamente: Quanto mais eu ando, mais eu vejo que ele é um dos mais inteligentes da vida. Eu que curso Letras, não tinha noção da babagem literária que papai traz consigo. Ele falou de coisas que eu tive que correr para acompanhar. Dizem que  as mulheres procuram no homem que querem ao seu lado a figura paterna, vai ver por isso eu ainda estou só, pois eu não acho ninguém como ele. É de uma singularidade intrigante.
O hábito de chamá-lo de pai foi tardio, lá pelos 17 anos. Essa nossa relação assim, meio bagunçada tem suas barreiras. Eu não chamava meu pai de nada, eu só chegava perto dele e ia falando. Eu sentia meu rosto esquentar de vergonha, pois eu queria chamá-lo de algo, mas pai eu não tinha coragem e pelo nome eu achava agressivo, então, eu só saía falando o mais rápido possível para ele não perceber. Até parece... Nessa minha criação totalmente sem convenções eu me criei assim do jeito que deu para ser. Sempre fiquei com nó na garganta do choro nas festas de dia dos pais na escola, mas é como diz a velha máxima, 'O que não mata, fortalece.' E eu me fortalece e aprendi a ter do meu pai, e aproveitar, o que ele tem a me dar. Cansei de tentar ser comum, aceitei que sou diferente e hoje e cada vez mais eu dou valor a tudo o que tenho, pois foi difícil demais chegar até aqui.
Uma das lembranças mais fortes que tenho dele é de  quando eu tive uma doença séria e fiquei internada. Meu pai que nunca se rendeu a demonstrações físicas de afeto, entrou no quarto e me beijou a testa. Nenhum outro beijo que ganhei na vida tirou, nem vai tirar, meu fôlego como aquele. Foi o amor de saber que papai não é alheio a mim, ele só é diferente. Sei que nossa relação poderia se estreitar, mas somos assim, cada um no seu canto, mas ele nunca terá ideia de quanta coisa eu tenho em meu mundo que foi ele quem me deu.
Feliz aniversário, pai!

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