quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Eu quero ouvir o mensageiro dos ventos...

Eu vejo todo mundo passar pela vida correndo tanto. Isso me assusta. São tantos cursos e tantas graduações e pós e tudo que parece que a vida é para estudar e trabalhar, e trabalhar para pagar mais estudos. Eu fico pensando: Que horas a gente brinca? Que horas basta? Que horas a correria deixa de ser cotidiana? Eu lido com jovens, mais velhos e tudo. E vejo: ninguém tem memória. Eu falo uma coisa com um amigo hoje e se amanhã eu for retomar o assunto, só ouço: "Ih, amiga, nem lembro. É tanta coisa na cabeça." Isso me assusta, muito. Que hora do dia dá para sentar e sentir o vento no rosto e ouvir o barulho do mensageiro dos ventos? Hora nenhuma! É trabalho o dia todo, e chega e arruma tudo, e cuida da casa, e vai estudar, e volta, e come, e toma banho, e vai dormir. Acabou o dia. E o outro e o outro e... Queria sentar com meu amor no portão e olhar as crianças brincando e sorrir. Só que não tem nenhuma criança na rua mais. Elas estão estudando e fazendo cursos para serem adultos que estudam mais ainda. As crianças passam sérias, de mãos dadas com as mães, correndo, mas não para brincar e sim para acompanhar os passos dos pais apressados.
Eu estava mexendo nuns guardados e vi uma coleção de uma coluna que eu lia na adolescência. Eu parei e fui procurar saber sobre o autor, Antônio Prata - Estive Pensando, Revista Capricho. E senti muitas coisas da adolescente que eu fui. Eu queria mudar minha vida radicalmente. Parece que tinha raiva do que eu era. Sei lá, mas é boa a sensação de que eu poderia fazer o que quisesse. Eu podia  mudar o mundo. Nem que fosse só o meu. Mudei! Não tanto as coisas à minha volta, mas principalmente as coisas dentro de mim. Os quereres são tão outros. Tão melhores. Mas de uma coisa eu  tenho saudade, na minha adolescência eu podia sentar e ver as crianças brincando. Parece agora que criança é uma espécie em extinção. Eu quase não vejo. De vez em quando eu procuro olhar para trás, exercitar a memória, pois ela me explica, como ninguém, como é que eu cheguei aqui. É uma loucura. Será que eu tento sanar a loucura do mundo ou me deixo levar e passo a ser louca também? Sei lá. Acho que eu já até estou totalmente envolvida nisso e digo que não para mim mesma, para acreditar. Pelo menos na minha cabeça eu sou livre e nesse mundo robótico eu brinco de desligar o botão. Sento no chão, ouço o barulho do mensageiro dos ventos e se não tem criança na rua, eu fecho os olhos e busco a risada da criança que eu era e que ainda mora dentro de mim.

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