Ela estava aflita, apertada, contida. Contra a própria vontade manteve-se em silêncio, sem poder falar, bater, andar. Apanhou por horas, sem poder balbuciar qualquer som que fosse. Ali, magoada, machucada, sem forças, foi exposta à estranhezas tamanhas que a fizeram se prender ainda mais .
Ela quis ficar no escuro, mas luzes incandescentes lhe invadiram com dolor. Ela quis um colo, nada. Tentou um cobertor, mas só conseguiu uma inquietação infinda.
Ela tentou ocupar aquela vontade com coisas outras, mas nada cabia e nem poderia caber. Ela é única e imutável.
De repente se foi o dia. A noite veio vestida daquele colo desejado com tanto ardor. Ao longe ela ouviu a música que a despia de qualquer convenção e tocava o centro de sua alma. Ela se deixou levar e soltou-se numa intensidade 'indizível'.
Correu seu terreno, muitas vezes proibido, e cresceu imensuravelmente. Banhou cada pedacinho e se misturou àquele chão.
Espantou quem a viu e causou zanga em muitos. Tentou voltar, mas era impossível. Então ela se permitiu! Pretendendo apaziguar o mal-estar cândido causado por sua aparição, ela pôs-se a explicar: "Eu sou uma voz! Uma voz que por incontáveis vezes é escondida e abafada, sou maltratada, maldita e malquista, mas ainda assim eu sou. Sou porque fui criada assim e minha singularidade me impede de ser diferente em quaisquer aspectos. Sou calada sempre e substituida, porém nunca esvanecida. Causo agonia quando presa, pois, nesse estado, só me ponho a crescer. Nasci liberta, entretanto, inacreditavelmente tentam me trancar! Eu sou uma voz e um corpo. Sou a representação de um estado de espírito. Sou comum e ainda assim causo espanto. Só sei que sou. Sou um ponto de ebulição, quando solta, sou alívio. Já quis mudar meu nome para tentar viver de forma diferente, mas nada me serviu. Sendo assim, me aceitei e me assumi. Mesmo com desprazer me apresento: Lágrima."
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