"Não, eu quero uma ismãzinha!"
Era assim que você respondia à minha prima quando ela ficava lhe atiçando, dizendo que eu seria um menino. Pois é, ismã, eu vim de acordo com a vontade do Pai, atendendo ao seu desejo de ter uma irmã com quem brincar, conversar... Em princípio, claro, a gente brigava de se enrolar no chão, afinal, criança é para isso! Ficamos sem nos falar e volta e meia ainda temos nossas rusgas, mas cada vez conseguimos ficar menos tempo longe porque família precisa estar sempre perto. Por esses dias eu tenho pensado muito na nossa infância na pequena casa da rua Narciso e me vem à memória como ficávamos sozinhas. Você, que ainda era tão criança, tinha a responsabilidade de cuidar da casa, de você mesma e de mim. Então, passávamos pelo começo da Amandiú, rua em que mora até hoje nossa avó, e uns meninos mexiam com você, chamavam por apelidos, aquela crueldade que é peculiar de muitas crianças, e eu prontamente respondia, dizia que isso ou aquilo era a mãe deles, os chamava de imbecis e achava que não apanhava por ter enfrentado. Hoje sei que era por ser pequena demais e menina, ainda assim, sei que era o jeito de a gente se cuidar e de eu retribuir seus cuidados comigo.
Há poucos anos, moramos ao lado da casa das gêmeas e a mãe delas, dona Zita, por muitas vezes me disse: "Eu achava lindo quando vocês passavam aqui crianças. Sua irmã segurava sua mão com firmeza, como se estivesse carregando seu bem mais precioso."
É isso, nossa história até aqui é a pequena parte do nosso maior e mais precioso bem, nosso amor de ismã!